terça-feira, setembro 11, 2007

A crônica de Marina Colassanti “Eu sei, mas não devia...” sob a perspectiva da doutrina filosófica-literária de Albert Camus.

A crônica de Marina Colassanti “... Eu sei, mas não devia...” revela o quanto o homem pode se aprisionar, alienar-se a costumes e hábitos, a falsos poderes, ou melhor, a um contexto de vida que muitas vezes o leva à perda de sua identidade. Falta nesse homem tomar consciência e praticar o seu poder de romper, de retirada, característica natural e intrínseca a todo ser humano - Reconhecer e experenciar a dimensão da sua felicidade e de sua liberdade.
Essa crônica faz refletir sobre as possíveis perdas de nós seres humanos nas nossas buscas do conhecimento do mundo. Muitas vezes nessas buscas nos perdemos como um todo. Pois, quanto mais conhecemos e desejamos as coisas, mais elas se apoderam de nós.
A crônica também nos remete a uma reflexão da doutrina filosófica e pensamento de Camus, quando retrata o homem absurdo e revoltado nos fazendo pensar em muitos aspectos, principalmente com relação à liberdade.
Pergunta Camus: o que é um homem revoltado? E ele mesmo responde: “ Um homem que diz não. Mas, se ele recusa, não renuncia: é também um homem que diz sim, desde o seu primeiro movimento. Um escravo que recebeu ordens durante toda a sua vida, julga subitamente inaceitável um novo comando...”
Esse “não” dito também é um “sim”, pois ele define a existência de uma fronteira, de um limite, demarcando, portanto, o ponto de ruptura, para o novo.
A revolta para Camus é o protesto, a obstinação, a recusa, o confronto. Face ao absurdo uma das posições filosóficas coerentes é a revolta. “Ela é o confronto perpétuo do homem e da sua própria absurdidade. É a exigência de uma impossível transparência. Equaciona o problema do mundo (...) é a presença constante do homem em si próprio. Não é a aspiração, pois é sem esperança. Esta revolta não passa da certeza de um destino esmagador, mas sem a resignação que deveria acompanhá-la”.
A revolta exige uma lucidez sem tréguas: manter a clarividência e o conhecimento dos muros que cercam o homem: a tenacidade e a clarividência são espectadores privilegiados nesse jogo desumano em que o absurdo, a esperança e a morte travam o seu diálogo. É necessária uma constante ascese para que seja possível ao homem manter-se no absurdo uma vez reconhecido este. A revolta não altera a natureza do absurdo, confere-lhe sim, uma maior agudeza pela intrínseca gratuitidade que proclama. No domínio da total inocência que é a sua, o herói absurdo reivindica a responsabilidade de manter uma lucidez sem tréguas.
Para haver revolta é preciso que não haja esperança. A esperança impede a revolta. “A graça divina é estar aguardando algo de alguém”.
Contrário à condição do homem alienado tão bem caracterizado na crônica da escritora conforme mostra o fragmento abaixo:
“A gente se acostuma para não ralar na aspereza, para preservar a pele. Se acostuma para evitar feridas e sangramentos, a esquivar-se da faca e baioneta, para poupar a vida que aos poucos se gasta, e que, gasta de tanto se acostumar, se perde a si mesma”
Camus mostra em alguns fragmentos de sua obra sua força de lutar e retirar das situações negativas da vida lições e razões para modificá- la. Reconstruir do nada, dos escombros, uma nova vida.
“Embora eu tenha nascido pobre, nasci sob um céu feliz, num ambiente natural onde alguém se sente em união, desalienado”.
“Mas só há um mundo. A felicidade e o absurdo são dois filhos da mesma terra. São inseparáveis. O erro seria dizer que a felicidade nasce forçosamente da descoberta absurda. Acontece também que o sentimento do absurdo nasça da felicidade”.
Com relação ao homem absurdo Camus define como sendo aquele que não acredita no sentido profundo das coisas. O homem absurdo é aquele que não se separa do tempo. O tempo caminha com ele.
O absurdo para ele era um “abismo sem fim, colocado diante do ser humano" é o ponto de partida. Para se entender a intensidade do absurdo seria preciso pular neste, para desta maneira explorar sua existência.
Na sua obra o “Mito do Sísifo” ele afirma que “Viver é fazer que o absurdo exista”. Dessa forma, portanto, podemos extrair dessa afirmação que o absurdo é o “estado de graça” do homem para o seu viver. E aí não poderia deixar de evocar o sábio poeta Manoel de Barros quando define seu modo de vida. “Eu falo e escrevo absurdez... Me sinto emancipado”.
Ainda refletindo o pensamento de Camus em relação à crônica de Marina Colassanti.
“A gente se acostuma às coisas demais para não sofrer. Em doses pequenas , tentando não perceber , vai afastando uma dor aqui, um ressentimento alí uma revolta acolá ....”
“... a ser ignorado quando precisa ser visto...”
“ A deitar cedo e domir pesado o dia não vivido.”
Esses fragmentos fazem refletir sobre o cotidiano do homem e o suicido em Camus. Para ele o suicido era o único problema filosófico sério. Julgar se a vida vale ou não a pena ser vivida é responder à pergunta fundamental da filosofia (...) ( O Mito do Sísifo).
Sobre o suicídio ele ainda dizia: Um gesto como este se prepara no silencio do coração, da mesma forma que uma grande obra.
Quanto ao cotidiano, ele defendia “O cotidiano do homem é um trabalho operário que constrói para o Nada, para o Absurdo.
A liberdade para Camus não é a liberdade de um sujeito que escolhe, mas uma liberdade que nasce da contemplação do absurdo, da infinita distância entre mundo e homem. Segundo ele, a liberdade não se exerce em função de uma vida eterna, mas permanece como campo de exercício na vida presente, no tempo presente. O homem gozará então, a disponibilidade do condenado à morte: esse incrível desinteresse perante tudo, salvo a chama pura da vida, a morte e o absurdo são aqui, bem o sentimos, os princípios da única liberdade razoável: a que um coração humano pode sentir e viver.
Camus que era um homem revoltado e não se sentia bem com a situação absurda dos acontecimentos da vida. Para ele o homem revoltado era aquele que descobriu a maneira frágil e perecível com a qual sua vida se depara. Por essa razão ele era um forte opositor à degradação do ser humano.


por Paulo Penalva

sábado, setembro 01, 2007

Parque Lage, parque de arte.


Hoje, patrimônio da União, o Parque Lage, situado no Rio de Janeiro, teve como seu primeiro proprietário Rodrigo de Freitas Melo, que vendeu a Antônio Martins Lage, em 1859, que o deixou por herança a seu filho, o armador Henrique Lage. A área foi desapropriada pelo Estado em 1976.

Projetado inicialmente pelo paisagista inglês John Tyndale em 1840, o paisagista seguiu a tendência dos jardins europeus românticos. Nas décadas de 1920, 1930 e 1940 passarasm por uma reestruturação e nesse mesmo período foi edificado a residência do industrial Henrique Lage, onde hoje fica a EVA e o Café du Lage.

Entre os atrativos do parque, os visitantes podem desfrutar de uma gruta, um aquário com peixes de água doce, chafarizes, trilhas ecológicas, parques infantis e lagos. Próximo à mansão, tem-se acesso a um mirante com 50 metros de altura, de onde se pode ver a vasta vegetação do parque e palmeiras imperiais plantadas pelo primeiro proprietário. O parque conta com cerca de 60 vagas para garros e há um bicicletário logo na entrada.

Em 2002 o parque foi recuperado pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente, através da Fundação Parques e Jardins. Os jardins foram reconstituídos e foram tirados toneladas de lixo acumulados durante muitos anos.
No jardim, em frente, a mansão foi instalada um escultura em homenagem a Tom Jobim e seu filho João Francisco. A escultura é um artista, pondo numa tela o momento em que Tom e seu filho plantaram uma palmeira no parque.

O parque abriga a Escola de Artes Visuais, que teve seu início-se como Instituto de Belas Artes do Rio de janeiro, sendo transferido para o parque em 66, com a regulamentação do Governador Negrão de Lima. Em 1975 o IBA passa a se chamar Escola de Artes Visuais. A escola oferece cursos para crianças, adolescentes e adultos. São cursos para quem tem pouca ou nenhuma formação artística até para quem já possui um trabalho consolidado.
Germano Penalva