sexta-feira, outubro 19, 2007

Mais uma vez o tempo que deveria ter se esticado até que eu voltasse outra, nova, mudada e melhorada pessoa, não o fez. Manteve-se curto, inelástico, contra todas as minhas vontades de me desdobrar e me descobrir entre suas ondas. Naufraguei-me, e nadando contra a corrente, não saí do lugar. Não tive coragem de atirar-me ao mar, nem explorar ilhas desertas com desapego ao meu mundo, conhecendo o além-mar. Repeti a rotina da mesquinhez, que embora tenha sido nova, não parecia. Sem o menor esforço, caí de volta ao normal ao já tão conhecido, deitando na praia e pensando nas mesmas “pequeninces” da vida que a tanto tempo penso sem agir.

Agora, já é o final do verão, de outro largo período de tempo que tinha separado como auto-didático nas lições da vida, e de momento de profundas mudanças e reflexões sobre a minha própria existência e caminhos de devaneio.

Mas não, mais uma vez, seja por falta de esforço próprio ou pela influência maior de fatores externos (que duvido) não me sinto outra. Nem maior nem melhor, nem mais sábia nos conhecimentos do mundo.

Aprofundei apenas minhas incertezas, e minhas certezas também, e me deixei terminar este falso verão da mesma maneira com que nele, embarquei. As incertezas aprofundei por relação com outros, quando me indagava sobre meu próprio caminho e vi quantos outros têm a força que os levará `a ação mesmo sem ter o caminho já traçado. Vejo que me iludo menos, e na minha incerteza não logro tão bem convencer os outros de minhas falsas virtudes, vaidades e exclamações. A certeza que cresceu, no entanto, foi outra. As pessoas antes que eu as conheça, não me conhecem, não me julgam como eu as julgo e não esperam de mim o que eu acho que me cobram.

Nada é certo no começo incerto, e tenho que aprender a começar do zero. Sem arrogâncias ou falsa modéstia, tenho que me dispor a conhecer tudo que eles me têm a ensinar, e fazer ao máximo e de verdade tudo que me disponho a exibir.

Carol Stern

quinta-feira, outubro 18, 2007

A arte de grafitar as ruas.

Diferente da década de 1970, o grafite, hoje em dia, é considerado obra de arte. Cada vez mais, aumenta a procura de galerias de arte por artistas que expressam suas ideologias nos centros urbanos. Da atividade marginal que atingiu o Rio de Janeiro na década de 1970, o grafite ganha espaços em galerias de arte e casas de artistas famosos.
Para os manos que não sacam nada de grafite, vale ressaltar que dentro desta arte existem subdivisões. De um lado, pode-se falar do ”Grafite Hip Hop” que possui como elementos principais letras e personagens caricatas presentes no movimento Hip-Hop. No outro lado, encontra-se o Grafite Acadêmico, que utiliza-se de stencil e é geralmente praticado por estudantes de Escolas de Arte.
Quando o grafite começou, era carregado de ideologia. Surgiu no pós-guerra como forma de protesto e ganhou força com o movimento estudantil na França, em maio de 1968. Não demorou a chegar ao Brasil. No final da década de 70 e início de 80, na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, o grafite já estava difundido. Os estudantes brasileiros protestavam contra o sistema capitalista através de pichações em muros da grande São Paulo.
O que se observou ao longo desses quase 40 anos foi que as atribuições aos pichadores e grafiteiros modificou-se. Quando o movimento começou, pichadores e grafiteiros eram considerados transgressores de leis. Hoje, são artistas.
No Rio de Janeiro, a arte de rua dos grafiteiros e pichadores ganha espaço em galerias e chama a atenção das pessoas que passam em ruas como a Avenida Jardim Botânico. Artistas cariocas, como Toz, que faz parte do grupo de grafite Fleshbeck Crew, grafita há oito anos. Formado no curso de Arte e Desing da UniverCidade, Toz diz que não se importa com opiniões de pessoas que criticam a exposição de suas obras em galerias como a Choque Cultural, em São Paulo. “A vibração das ruas leva às galerias. Pinto com conceito, retrato a minha vida e o meu redor”, disse Toz.
O artista soteropolitano diz que quando chegou ao Rio, na década de 80, o grafite era marginalizado, mas que atualmente essa arte ganhou outra conotação.
Toz já criou diversos personagens, mas o preferido de seu público é Nina, boneca com traços orientais e mistura de influências do universo feminino, principalmente de sua sobrinha. Seu nome origina-se da palavra “menina“. O artista caracteriza a personagem como uma boneca sonhadora.
Quem quiser conhecer o trabalho de Toz pode acessar o fotolog do Fleshbeck Crew ou percorrer as ruas do Jardim Botânico. O artista possui maior número de trabalhos na Zona Sul carioca: “O grafite tem a parada de você sempre ficar vendo sua arte depois de feita”.
escrito e fotografado por Germano Andrade Penalva

VÔO DO VAZIO

Estando cheio de tudo- de mim, do outro, do universo- precisei aprender a virar-me pelo avesso para encontrar o meu vazio. Comecei, assim, a tecer a paz.
Rita Quadros
Livro: Borboletas Lilases em Casulos Organizacionais

VÔO INÚTIL

Querer aparentar e pensar que consegue.
Insistir em formar vínculos apeasr da rejeição.
Agradar aos outros se desagradando.
Demonstrar o que não tem eco em si próprio.
Dar dinheiro quando se precisa de afeto.
Apontar no outro o que também está em si mesmo.
Jogar o medo embaixo do tapete.
Ser um vulcão de ira sem jamais entrar em erupção.
Preferir quebrar por inteiro para não ceder.
Fazer as pases quando a guerra interna continua.
Querer o lugar do outro quando ainda não definiu
o seu próprio espaço.
Rita Quadros
Livro:Borboletas Lilases em Casulos Organizacionais

C-I-D-A-D-E




O nascimento da polis se dá por volta dos séculos VIII e VII a.C. Ela surge, enquanto espaço físico-social, provocando grandes alterações na vida social e nas relações humanas. Surge na Grécia, e sua originalidade está na centralização da idéia de praça pública, espaço onde se debatem os problemas de interesse comum. A polis se faz pela autonomia da palavra, não mais a palavra mágica da autonomia dos mitos, palavra dada pelos deuses e, portanto, comum a todos, mas a palavra humana do conflito da discussão e da argumentação. Esse foi uma concepção de cidade que perdurou por muitos anos e ainda está presente, hoje em dia, quando se discute a esfera publica e do direito. Contudo, observa-se também que para esse conceito foram incorporados novos valores como o de cultura.
Pode-se corroborar com essa idéia, também, que tanto a palavra cidade como cultura e homem são conceitos que abarcam a possibilidade constante de mudança, porque eles fazem parte de um discurso reflexivo em que um modifica o outro.
Gostaria também de introduzir nesse discurso um dos significados da palavra cidade para o geógrafo Milton Santos ao escrever A Cidade nos Países Subdesenvolvidos:
"... a cidade é, antes de tudo, definida por suas funções e por um gênero de vida, ou, mais simplesmente, por certa paisagem, que reflete ao mesmo tempo essas funções, esse gênero de vida e os elementos menos visíveis, mas inseparáveis da noção de 'cidade': passado histórico ou forma de civilização, concepção e mentalidade dos habitantes."

O geógrafo nos mostra que as leis e regras presentes em cada cidade são premissas para o seu funcionamento. Cada corpo apesar de possuir um determinado número de organismos necessários à sobrevivência, funciona diferentemente. Cada cidade possui uma combinação de DNA.
O espetáculo O Corpo, o poema do concretista Augusto de Campos e a afirmação de Paul Auster trabalham sob os signos da urbanicidade. Apesar dos três tipos de linguagem artística serem diferentes e existirem combinações de signos díspares, ao serem interpretados e comparados possuem similitudes.
A cidade é um corpo e o corpo é uma cidade. A cidade e o corpo possuem doenças, cânceres, verrugas, sinais, distúrbios, esquizofrenias, anomalias, autonomias, dependências, independências, possuem órgãos, perdem órgãos e possuem etc, porque tanto no Corpo como na Cidade os processos combinatórios são infindáveis até cada sinal vermelho.
Uma primeira correlação que se pode fazer entre o espetáculo O Corpo e o poema de Augusto de Campos é que em O Corpo precisamos envolver as partes para formar o conteúdo do espetáculo. Faz necessário unir as partes para formar o corpo. Esse ponto é reforçado com a trilha de Arnaldo Antunes que inicialmente apresenta os elementos do corpo lentamente e ao decorrer do espetáculo há uma aceleração, como se as partes estivessem se auto-conhecendo e se juntando. Já em Cidade, o entendimento e o reconhecimento do conteúdo acontecem quando há o desmembramento do corpo e em um processo concomitante a união junto aos sufixos cidade/cité/city. Podemos dizer que há um processo dialético entre a legibilidade e a ilegibilidade, assim como nas cidades, em que as pessoas só ganham representação quando estão inseridas.
A escolha da trilha sonora elaborada por Arnaldo Antunes agrega valor ao espetáculo. Esses valores estão arraigados no personagem extremamente urbano desempenhado pelo artista. Em muitas críticas sobre seu trabalho o intitulam com um poeta/performer. Através de sons agudos e de um ciclo vicioso repetem-se as palavras “mão”, “pé”, “mão”, “pé”. No cenário aparecem sinais vermelhos que lembram os sinais vermelhos dos semáforos que ascendem, apagam e se alternam com o amarelo e com o verde. Pare. Atenção. Sigo.
Assim como o espetáculo de dança que é construído e pode ser interpretado a cada momento que os bailarinos se movem ou fazem um gesto diferente, o poema também pode ser interpretado de diferentes formas. Ao falarmos da poesia concreta, devemos levar em consideração que não só as palavras e sua disposição devemos procurar entendê-las, mas também os espaços em branco. Para correlacionar a disposição do poema com a disposição de O Corpo, pode-se trazer ao discurso a idéia de Haroldo de Campos. Segundo ele, nas poesias encontram-se três dimensões de abordagem diferentes: “uma dimensão gráfico-espacial, uma dimensão acústico-oral e uma dimensão conteudística, que se estimulam mutuamente e remetem uma a outra sem cessar, fazendo do poema uma estrutura dinâmica.” Assim funciona o espetáculo O Corpo que ao agregar o valor da trilha de Antunes, nos mostra um processo orgânico e natural das cidades e do sistema dialético “homemcidade”. Tanto o vazio dos espaços do palco quanto o vazio de partes do papel nos falam alguma coisa. As cidades também são assim. O caos urbano em muitos estágios sociais foi representado pelo vazio por causa de catástrofes naturais ou causadas pelo próprio homem como ao lançar a bomba atômica.
A coreografia representa a cidade ao compará-la à estrutura de um corpo humano e ao representar o homem como elemento da cidade. O espetáculo leva a tona também a questão da mecanização e da dependência dos homens pela tecnologia e pelas máquinas. Cada vez fica mais difícil de distinguir se as inovações tecnológicas estão escravizando os homens ou os tornando mais ágeis. Os dançarinos passam essa idéia através de movimentos lentos e sincronizados que parecem marionetes robotizadas.
O nosso corpo, assim como a cidade, é movido por incertezas e uma voracidade. Corre nas nossas veias sangues assim como correm carros nas ruas. Há momentos de nossas vidas que os carros param por falta de combustível e nesses momentos podemos reabastecê-los e há momentos que os carros param.
O ritmo do poema pode ser lido como o ritmo das cidades. Ora desenfreáveis, ora incompreensíveis e ora compreensíveis, mas velozes. De certa forma as cidades existem uma organização assim como no poema, por isso que conseguimos ler suas partes. Dificilmente conseguimos lê-las por completo. Os prefixos são encadeados em ordem alfabética, o que mostra que com um olhar mais apurado, que as cidades exitem certa ordem e que pode-se procurar entender as partes. Trata-se de um poema universal, no sentido de que não fala de uma sociedade brasileira, nem francesa, nem americana simplesmente, mas da complexidade de qualquer cidade. Atrocidade, caducidade, capacidade... voracidade são características de todas cidades. Essa ultima palavra retrata bem como é paradoxal viver nas cidades, ao mesmo tempo em que as construímos, somos engolidos por elas.
Podemos utilizar a palavra fragmentos para as três exposições: O Corpo, Cidade e a afirmação de Paul Auster. Os fragmentos da coreografia, inicialmente, não permitem a compreensão do todo. No poema concreto é necessário fazer uma desconstrução do todo, mesmo sem compreendê-lo, para arquitetar possíveis combinações entre as partes. Assim é também a afirmação de Paul Auster, que mostra a multiplicidade de sentimentos que há numa cidade, que são intraduzíveis diante a complexidade da metrópole. Fica no ar um sentimento de incapacidade e pequenez diante do todo.
Nas cidades somos uma peça de um quebra cabeça, e vemos outras peças que podem se aglutinar, mas não temos a real dimensão do quebra-cabeça completo.
Germano Penalva

quarta-feira, outubro 17, 2007


Hugo Canuto
SSA-BA
"Eu andarei vestido e armado com as armas de São Jorge para que meus inimigos, tendo pés não me alcancem, tendo mãos não me peguem, tendo olhos não me vejam, e nem em pensamentos eles possam me fazer mal. "

terça-feira, outubro 16, 2007

MANOPENALVA

MANO PENALVA