sexta-feira, dezembro 07, 2007

Gabarola Tupiniquim

Chegou à rua, da qual não recordava o nome, olhou para a esquina iluminada. Atravessou a rua confiante rumo ao balcão onde, debruçado em frente às mortadelas, o seu amigo de todas as noites fitava o nada. Mas como se chamava mesmo? Ah! Antes da saideira, “chefe”, depois a língua enrolava e ele demitia o “patrão”. Vendo-o chegar, o “chefe”, acostumado, servia-lhe a picada de cobra. E ele, satisfeito com a reverência, bebia num gole só. Isso é que era prestígio, pensava com orgulho de si mesmo. O “chefe” cabisbaixo caminhou até uma janela engordurada, esticou o braço e num esforço alcançou a travessa na qual repousavam duas sardinhas fritas. Foi até o rolo de papel de embrulho e destacou com destreza. Forrou o prato de vidro, colocou as sardinhas e deu o toque final com uma folha de alface estrategicamente colocada.Uma mosca solitária se despediu das sardinhas. Restava-lhe a travessa polvilhada com farinha.
Mirian Lopes

Nenhum comentário: